segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Treze


Nunca fui chegada a réveillon, não mesmo! Acho uma coisa chata e sem sentido. Nunca fui sequer a uma festa de ano novo legal. Tive algumas viradas interessantes, no Times Square, em um cruzeiro, a clássica em Copacabana – que é, claro, valeram muito mais do que uma festa de arromba. Mas não me fizeram mudar de ideia, continuo achando o réveillon a pior comemoração do ano.

É que acabo achando que a virada é um misto de sentimentos, alguns bons e outros nem tanto. Quando tenho um ano extremamente bom, fico com aquela pontinha de nostalgia quando preciso deixá-lo para trás à meia-noite. Às vezes, bate um sentimento apreensivo, um medo de como será o que virá pela frente. E, é claro, como a maioria das pessoas, também sou invadida por aquela felicidade repentina e pela esperança de que tudo, agora, vai mudar.

Bom, o fato é que com todos esses sentimentos aflorados, senti que neste ano a virada foi diferente. Com poucos anos na vida adulta, ainda não tinha tido um ano que pudesse dizer que havia sido, de fato, ruim. Todo ruim, sabe? Inteirinho, de ponta a ponta. Assim foi 2012, um ano que senti que a todo o momento podia me engolir e que eu precisava vencer, antes que ele me vencesse. Quando deu meia-noite e os fogos tomaram conta do céu, senti que, enfim, havia sobrevivido.

E por que essa revolta toda? 2012 foi um ano de perdas irreparáveis, de uma qualidade de vida péssima, de um trabalho estafante e pouco prazeroso, de sonhos desfeitos. Pontualmente, houve episódios felizes, é claro, mas eu disse pontualmente. Entre os escombros, o sonho da casa própria se fez real, e, entre as desesperanças, um novo sobrinho a caminho para renovar as esperanças.

Agora, 2013, enfim, você chegou. Venha na paz que seu antecessor não veio. Estou de braços abertos para te receber, mas sem a crença ilusória de que tudo vai mudar, simplesmente, porque você chegou. Eu sei que para ganhar um ano novo que mereça este nome, eu, minha cara, tenho de fazê-lo novo, já dizia Drummond, bem antes da propaganda do Bradesco. Ainda sem saber bem como, estou disposta, sim, a despertar este ano novo que cochila e espera dentro de mim desde sei lá quando!

Seja bem-vindo à minha vida, 2013!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Compositor de destinos

Colégio Moderno, em Belém, aos 15 anos. Permanecemos juntas até hoje.

Nunca deixei aniversário passar em branco. Na verdade, nunca fui de comemorar - lembro-me de poucas festas que fiz ao longo da vida -, mas sempre vi a data como especial. Para mim, aniversário é um pouco como réveillon, aquele período que a vida te chama para uma conversa e você pode avaliar o que andou fazendo e o que deixou que os outros fizessem da sua vida. Eis que chega mais um outubro em minha vida, trazendo meu dia 20 junto.

Ontem, fazendo meus balanços mentais enquanto o táxi avançava no trânsito inesperadamente bom da JK, me dei conta de que – nossa!!! – já se vão 10 anos dos meus 15 anos. E, sim, sim, o clichê é válido: eu lembro como se fosse ontem! E é por isso que me impressiono, eu pisquei e o tempo, simplesmente, passou!

Lembro como se fosse ontem da minha festa de 15 anos, de cada preparativo, do meu vestido cor de terra que ninguém jamais acreditou que ficaria bonito. Lembro-me das minhas manhãs em todos os colégios de Belém que passei e ainda posso sentir a alegria das risadas gostosas daquele tempo.

De cada dia... Sinto que lembro de todos, dos alegres e dos tristes, porque, mesmo 10 anos  e muitos problemas depois, não vou compactuar com a ideia de que a vida é fácil aos 15 anos. (Você, que tem 15 anos e está lendo isso, um recado: não aceite esse pensamento ridiculamente nostálgico dos adultos que menosprezam os seus problemas. Acredite, eles são grandes, sim!)

Lembro do quanto era corajosa, do quanto acreditava que precisava experimentar para aprender. Eu queria sentir, eu queria viver. Eu  precisava me colocar debaixo do sol quente para entender que, às vezes, ele queima.  E se isso foi bom? Ô, se foi! Eu entendi a vida por mim, não foi ninguém que me explicou não, moço! As cicatrizes que eu levo são minhas e de mais ninguém!

Lembro do quanto fui libertária para uma menina tão nova. Dizia que homem nenhum mandava em mim – e como isso deu briga com meu pai, viu... Que não casava antes dos 30 anos, que só talvez tivesse filhos e que minha vida profissional estava acima de tudo. Não perdia tempo sonhando com casamento.

Mas aí vieram os amores, que, de um jeito ou de outro, me ensinaram a amar um pouco mais, me doar um pouco mais, ceder e, sim, sonhar com casamento e com filhos! E amadureci. Casei aos 23 anos e, hoje, tenho muito orgulho de tudo o que já abri mão em benefício da minha família. O tempo, ainda bem, me fez mais leve!

E o período da faculdade não passou em branco. De todas as coisas que lembro com saudade, deixo registrado que adorava ir pra Unama com a mão ligeiramente para fora do carro, sentindo a força do vento quando conseguíamos pegar velocidade na BR. E é assim que eu lembro desse tempo, porque fui livre, porque experimentei, porque dei minha cara a tapa para o vento bater.

Pois é... Niemeyer é que está certo, no alto de seus 100 anos, não cansa de dizer que a vida é um sopro. E é mesmo. E se é isso mesmo e não tem jeito, eu sempre desejo que seja um sopro forte, doce e, ao mesmo tempo, violento, intenso, um tapa na cara. Um sopro de vida, que não pode escorrer por entre nossos dedos no morrer – viver! – de cada dia.

Ok, não foi num breve piscar de olhos. E ok, o tempo não simplesmente passou. Acho que exatamente por terem acontecido tantas coisas nestes últimos 10 anos que tenho a impressão de que eles voaram. 

domingo, 23 de setembro de 2012

Só os amores eu guardei

Pra fugir do estereótipo: represa de Guarapiranga, zona sul da cidade

Uns anos atrás, escrevi um texto sobre São Paulo no meu antigo blog. Era um texto até bonito, apesar dos errinhos de português, e também bastante apaixonado. Era a visão de uma jovem mulher que encontrava em São Paulo seu lugar no mundo.

E era assim mesmo: todas as vezes que vinha para cá, como turista, sentia que estava voltando para casa. É que São Paulo me fascinava, eram muitas oportunidades que podia me oferecer, era outro mundo, era abismalmente diferente de Belém. E então, no dia 24 de janeiro de 2010, desembarquei de “mala e cuia” (como se diz em Belém) na Pauliceia Desvairada. Hoje, mais de dois anos e meio depois, me dedico a escrever sobre esse pedaço de terra que, entre todos os pedaços de terra do mundo, sempre me fascinou imensamente.

Estar aqui como moradora de verdade me fez conhecer outra cidade que não via nem nos cartões postais e nem nas vindas como turista – com tudo o que isso tem de bom e ruim. A vida decidiu muita coisa por mim quando me mudei. Como turista, escolheria um dos bairros clássicos – para turistas! – para viver, como Pinheiros, Vila Madalena ou Jardins. Mas assim a vida não quis e me mandou pra Vila Mariana, reduto de paraenses, onde é até possível ouvir “reeemo” ou papããão” em dias de jogos.

Isso mudou tudo em São Paulo. E quem aqui disse que não acredita em maktub? A vida decide muitas coisas pela gente, deve ser o tal destino, que, às vezes, vem dar as suas caras. Depois de seis meses na Vila Mariana, não quis mais sair de lá. O Ringo já era cliente cativo do pet, já conhecíamos as padarias, as ruas do entorno, os barzinhos trash e tudo mais. Quando acabou esse primeiro semestre, mudamos ainda mais para dentro da Vila Mariana e acabamos já na divisa com a Saúde.

Nesse pedacinho de mundo, conheci a cidade que os cartões postais não mostram. Fazer só o mestrado e não trabalhar por um tempo me possibilitou conhecer bem a rotina da região. O carro das frutas passava a primeira vez perto das 10h, o dos ovos entre 10h e 11h, às vezes o carro dos pães também aparecia, só que sempre no fim da tarde. Uma feira enoooorme tomava conta das ruas próximas às terças e chamava gente do bairro inteiro. Era um pedacinho do mercadão do lado de casa.

A gente se acostuma com uma São Paulo agressiva, com a tal selva de pedra. Convencionou-se dizer que, em “São Paulo, não existe amor”. Quando me mudei pra cá (sim, pra mim, paraense, o verbo mudar, assim como formar e casar, é reflexivo), conheci a São Paulo que lembra uma vila do interior. Por causa do tamanho da cidade, as pessoas se fecham muito mais em seus próprios mundinhos e, acredite, tão fácil quanto esbarrar com conhecidos em Belém é encontrar um vizinho de bairro no shopping.

Mas também conheci a outra São Paulo, também não mostrada nos cartões postais mas exaustivamente espetacularizada na televisão. Sim, eu já passei mais de três horas tentando voltar do trabalho num dia de chuva. Sim, eu acho o rodízio veicular um saco, porque ele me faz ter que pegar dois ônibus para chegar ao trabalho, sendo um deles biarticulado e, mesmo assim, megalotado.

E já me apertaram no metrô, já sofri seriamente com a neblina subindo a serra do litoral, já saí sem casaco aos 30 graus e, no meio do dia, só fazia 15. Já senti falta da fala e do riso fácil de qualquer paraense que a gente conhece por aí. Sim, as pessoas aqui são mais polidas e fechadas e demoram para confiar em você e te colocar dentro de casa – beeeem diferente de Belém, não?!

Tenho orgulho de dizer que não tenho mais a visão deslumbrada que tinha daqui. Existem coisas muito irritantes, mas também existem coisas muito belas. São Paulo ainda me fascina, suas luzes ainda ofuscam a minha vista. Acho que sou mesmo mais uma presa dessa cidade, que, pouco a pouco, me faz virar mais gente. Propus-me a viver o seu ritmo – que, quero deixar claro, tem só um pouco a ver com a visão clássica de metrópole corrida que todo mundo tem – e, então, fui dominada.

Quem disse que não existe amor em São Paulo, é porque não tem dentro de si um nobre sentimento que nos faz ver além do que se vê, que nos dá esta pitada a mais de sensibilidade: o próprio amor.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Amém!



Tá aí uma coisa que eu não sou na vida: romântica. Digo “te amo” muito pouco, não sou de preparar surpresas e, se fosse homem, com certeza não seria de mandar flores. É que romantismo, para mim, se expressa em outras coisas, em outras situações: num cuidado maior no dia a dia, com uma palavra de apoio, com as mãos entrelaçadas no silêncio do sono.

Pela mesma linha de raciocínio, também não sou muito carinhosa. Beijinho, abraço e carinho não fazem meu estilo. Mas que grande besteira! Esses são só rótulos que criam para os namorados. No meu caso, casados. Pelos rótulos, seria fácil se enganar comigo. À primeira vista, pareço tímida, quieta e pouco interessada no contato com o outro. Mas sensibilidade é uma coisa que tenho orgulho de dizer que não me falta; e também não economizo em amor.

Bom, o fato é que hoje estava com um tempinho livre e aproveitei para conhecer melhor o trabalho da Clarté, uma produtora de Belém que está revolucionando o mercado por lá com vídeos emocionantes e super diferentes. Pena que eles ainda estavam começando quando casei, mas também não me arrependo, meus fornecedores fizeram um trabalho lindo. E vamos combinar que a modelo também ajuda, né! (Uma brincadeira para descontrair - risos).

Vendo aqueles vídeos lindíssimos, sensíveis até o último segundo, senti uma sensação boa, de plenitude. Senti que havia encontrado alguém para vida inteira. Que tinha sido - e sou todos os dias - agraciada com esta benção. Que tenho a sorte de um amor tranquilo, como pedia Cazuza.

Que idiotas são aqueles que não querem casar. Não sabem o quanto isso é bom. E a única rotina que existe é a segurança maravilhosa de pensar que todos os dias, ao voltar para casa, a pessoa que você ama também vai estar lá. No casamento, a gente se descobre e descobre o outro todo dia. E depois vêm os filhos, tudo muda. E eles crescem, vão embora, como eu fiz. E aí, temos que descobrir um ao outro novamente, como estão agora fazendo meus pais. E vamos assim, juntos, de mãos agarradas, até morrer.

Que assim seja, para sempre!

PS.: Uma carta de amor aberta. Para quem disse que não era romântica...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Pra (re)começar

Hoje, decidi voltar no tempo e ler meu antigo blog. Engraçado... Descobri que era algo de que eu me orgulhava, algo em que eu realmente acreditava e o melhor: acreditava que sabia fazer bem, apesar de alguns errinhos de português e frases piegas de quem ainda estava deixando a adolescência para trás. Era um blog de uma menina. Uma menina que havia acabado de entrar na faculdade de Jornalismo e imaginava um sem-fim de oportunidades para o futuro.

Ler o blog chega a ser estranho. Os anos foram implacáveis comigo. E olha que quem está falando isso é, ainda, uma menina, de poucos 24 anos. É que o tempo passou rápido demais nesses últimos quatro, cinco anos. Ontem mesmo eu nem tinha 20 anos, curtia a noite, tinha pique para ficar até o amanhecer na rua. Hoje, sou uma mulher. Casada. Profissional. Mestre. Dona de casa. E não tem dessa de época melhor ou pior, mas nós, seres humanos, temos a estranha mania da nostalgia. Saudade dá e muita, principalmente das pessoas que ficaram para trás.

Há muito tempo quero ressuscitar meu blog. Na verdade, fazer um novo que tenha mais a minha cara de hoje. Na verdade mesmo, o que eu quero é conseguir ressuscitar em mim aquela capacidade de escrever de forma sensível, de olhar para dentro de mim e para dentro dos outros e conseguir enxergar além do que meus olhos podem ver. Acho que dá, acho que eu consigo. Esse é o primeiro exercício. E para quem não escrevia nada pessoal há uns bons anos, acho que não estou me saindo tão mal, estou?!

Vou fazer um esforço enorme para atualizar isso aqui. E me ajudem, por favor. Leiam, comentem, não quero acreditar que o que estou fazendo é em vão. Escrevo para mim, mas para os outros também, e muito! Tenho o estranho sonho - e tão incomum em jornalistas (ironia!) – de ser escritora. Acho que dá, acho que eu consigo. Quem sabe esse não é o primeiro passo? A gente precisa descobrir o que realmente gosta de fazer na vida, não é?!

Espero vocês aqui! Um beijão!